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Um conto.


Ele fora o homem mais aprazível que Joana já havia encontrado e também o mais vil...

Mas, como ela sempre tivera apreço por pièces de résistance, por muito tempo focara apenas no que nele via de raro. Nas prolíficas páginas da sua versão imaginária dele, o que ele tinha de escuso e sofrível era sempre relegado à invisíveis notas de rodapés.

E assim, Joana vivera aquele encontro o mais amplamente que pôde, enfrentando com um otimismo míope aquele desafiante dualismo que muitas vezes a partiria. 

Sim, fora uma luta longa, lenta e desigual, travada em batalhas repetidas e exaustivas; alimentadas por calmarias mágicas, mas estrategicamente fugazes. 

Até que ela tombou, acordou, e finalmente separou o homem real daquele que criara em sua privilegiada ficção. Feito isso, arrancou muitas páginas, reescreveu outras; releu e reeditou tudo até chegar a um único conto — surpreendentemente curto — com começo, meio e fim:

Ele fora o homem mais aprazível que Joana encontrou, mas também o mais vil. Então, ela o deixou ir. 


Artwork: Agnes Cecile

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