Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2021

Clareza

É poderoso alcançar e exercer a lucidez A capacidade de ver por águas turvas De saber buscar forças só em você De sentir e viver o equilíbrio De proteger fragilidades De re-conhecer o que não é seu  De lutar por suas próprias batalhas De não se envolver com o que não soma De não desperdiçar esse tempo que é tão curt..o Artphotography: Toni Frissell via Artaspect

Desejos

Desejos podem vir... Fortes e urgentes Apelativos e escancarados Nervosos e, depois, calmos Desejos têm corpo olhos nariz boca pescoço seios fartos braços barriga mãos virilha popas pernas sexo Desejos mesmo nus, não se detêm Desejos são sem vergonha, destemidos, desinibidos Desejos vão para onde bem entendem, porque eles são... L     i     b     e     r     t     o     s E se mandam. Artwork:  Sara Shakeel 

Tempus Fugit : "Meu Adorável Marciano"

Estou entre os 25 autores do livro  "Tempus Fugit" — entre jornalistas, compositores, poetas e roteiristas —, que se reuniram para criar 25 contos sobre as impressões sobre o caos vigente pós-Covid. Redenção, resignação, superação, dores, recomeços, vitórias, perdas, risos, lágrimas, encontros, desencontros...a realidade não exclui nada e esse livro também não. Em  "Tempus Fugit"  tenho a sorte de estar acompanhada por um time de gente fina, elegante e sincera: Anna Lee, Armando Freitas, Arnaldo Bloch, Aziz Filho, Bárbara Pereira, Christovam Chevalier, Fernanda de Mello Gentil, José Guilherme Vereza, Laïs Mendes Pimentel, Lilian Arruda, Luciana Neiva, Luís Pimentel, Marcela Esteves, Marcelo Várzea, Nelson Vasconcellos, Olga de Mello, Patrícia Melloddi, Regina Zappa, Renata Andrade, Ricardo Sarmento, Rita Fernandes, Sidney Garambone, Silvio Essinger e Thais Pontes.  Meu conto " Meu Adorável Marciano" no livro Tempus Fugit foi inspirado no perfil do médico

Estação

Seus amores eram improváveis e desajustados Mas seu coração não quebrava ou endurecia Ele germinava, florescia e  des  pe  ta  la  va Artwork:  Raku Inoue

Asas

Eu não me demoro mais onde me prende... Sou ar, brisa, ventania, movimento, vida e ar-te Se o seu lugar é ser gaiola, só me resta voar (para bem longe) Artwork: Alexandre Venâncio

Zack Magiezi

Causa mortis Cortou os (im)pulsos   Zack Magiezi Artwork: Ilustração livro Hush, Hush de Becca FitzPatrick

Estou chegando

Deixo tudo para trás Para o já passou, foi ontem Deixo tudo o que machucou e doeu Por eu confundir, por ter me confundido Deixo todas as expectivas que me frustraram Porque não aconteceram, não foram reais ou justas Deixo pessoas, coisas, lugares, amores, memórias, datas Começo do agora, do caos, do hoje, desse tempo, desse capítulo Ouso re-escrever livros, roteiros, séries, filmes, contos, crônicas, posts Decido contar a minha própria história, com minhas palavras, nos meus termos Não deixo mais nada me enganar, me manipular, me devastar, me desviar, me deter . . . Nem eu mesma. Art photography: Heather Gaudio

Rendas

Bem na frente dele, que a observa imóvel e interessado no que faz Ela organiza sua gaveta de lingeries, acomodando calcinha por calcinha A maioria é preta e de renda mas, de repente, aparece uma cor de rosa shock Algumas são estrategicamente transparentes na frente, como um véu às avessas Outras são comportadas mas muito cavadas; ou despudoradas, pedacinhos de nada Uma em especial é de rendas e seda lilás; tem um quê de realeza...é sua estreia na gaveta Muitas são de malha, esportivas e bem safadas: saem rápido e são puxadas fácil para o lado Quase todas as calcinhas têm um modelo de soutien coordenado, mas ela às vezes mistura tudo Ou...não usa nada. Ele ama. Ela o provoca de um jeito que a vontade dele tem sempre pressa dela. Artwork: Mikhail Faletkin

Climax

Ela podia perceber quando ele queria senti-la Quando a procurava na mente, na pele, digitalmente Não era mais questão de fazer sentido ou de ter intenções Há conexões que estão além de contexto, explicações ou lógicas Há energias que simplesmente não se perdem, seguem outros rumos Mas há sempre os dias de encontros, mesmo que invisíveis e silenciosos Porque nem tudo está sob controle, é fruto de escolhas ou de decisões pensadas Há o que acontece a despeito de qualquer fato, vem da natureza  e do inexplicável E é isso que mantém o fio, a vida, a sintonia, o desejo e a busca...mesmo sem destino Acontece porque acontece, como um vulcão que fica anos dormindo e de repente explode Artwork: Loui Jover

Passagens compradas

Desistências nunca são premeditadas São vividas, sentidas, até que um dia implodem Uma explosão invertida que atinge camadas profundas Com o impacto de reações, percepções, frustrações, enganos Lançando destroços invisíveis em muitas direções dentro de você. Nesse micro big-bang particular, você escolhe re-nascer ou sucumbir Encarando a dor, mas submergindo dela para olhar para novas direções Ou mergulhando na dor das decepções, covardias, equívocos, negligências.  Optei pelo mergulho suicida algumas vezes, mas fiz o duro caminho de volta Essa opção acabou. Deixo doer sem anestesia, que é para a memória não esquecer  E parto... Artwork: Undrey

Fernando Pessoa

Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas,  de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral  de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia. Fernando Pessoa Artwork: Gilmar Fraga

Pouso

(...) Tudo já havia passado, repassado e acabado Mas alguma parte dela insistia em não apertar o end Uma vontade decidida em saber se ela era 'para sempre' De algum modo, em uma nota, uma referência, uma emoção. Porque ele era para ela de algum modo, nota, referência, emoção. Ela não queria deixar isso por aí, vagando no ar, sem ter onde pousar. Art Photography: Rich Froman

Chegada

Se você não sabe quem é Sua vida pode ser mais fácil Mas não será  rica e prazerosa  Como a de quem busca ser o que é Paga essa conta alta, se expande e vai Não para um lugar calmo, perfeito ou divino  Mas para o imenso oásis que é ser quem você é Artwork: Laura Zalenga

Muitas coisas que amo

Chocolate Comer bananas Tomar espumante O filme Amélie Poulain A minha própria companhia Descobrir músicas novas no Spotify As tiradinhas espirituosas da minha mãe Tirar fotos, olhando tudo sob novos ângulos Mergulhar no mar bem fundo, furando ondas Escrever, me expressar, me descobrir, traduzir-me Dançar por horas em uma pista de música eletrônica Ver arte e me inspirar com visões inéditas sobre tudo  Ouvir música o dia todo, alimentando minhas playlists  Viajar para longe de tudo, mas para bem perto de mim Uma noite encharcada de drinks, saliva, suor e fluidos Malhar e sentir todos os músculos do meu corpo vivos Dar risadas demoradas de bobagens com meus amigos O sorriso espontâneo dos meus filhos quando me vêem A paz da minha casa e o aconchego dos detalhes afetivos Andar, observando, descobrindo, pensando, espairecendo Photo: Pedro Cury | Eu no Oi Futuro 2019

Delete

(...) Certa manhã, no meio da pandemia global, de um cenário local surreal, regido por um Presidente estúpido; de trabalhos incertos; desencontros decretados; e de um ranço dessas redes sociais, que só desassociam, recebi um vídeo de uma criança fofinha ensaiando suas primeiras palavras. Logo que vi os primeiros segundos da tal gracinha, deletei o vídeo sem dó! Fiz isso em um gesto tão contínuo que, por alguns outros segundos, procurei uma culpa qualquer dentro de mim pela frieza cirúrgica. Foi quando uma outra Maria veio de mim e apressou-se a deixar claro:  — Hoje estou sem poesia. Artwork: M . Hodgins

Marina Colasanti inéditas

  " Preste atenção ao seu sonar, ao que bate na sua alma diferente" "Quanto mais difícil fica a vida das pessoas, mais elas querem rir ao invés de refletirem" " As crianças precisam de estímulos que escancarem as portas do seu imaginário e não de histórias de princesas com finais sempre felizes. Elas têm muito mais para contar" "Literatura tem que ter bússola. Você tem que ser coerente com a direção do que você quer dizer" "Ser escritor é canibal. Essa profissão nos come" "O inesperado enriquece o texto" (Frases ditas durante o Curso Carpitaria Literária - Estação das Letras) Photo: Emile de La Croix

Dias de não...

Há dias em que... Não tenho vontade de sair Não quero ver ninguém Não aguento as luzes Não desejo saber Não quero falar Há dias de não... Dias em que só consigo andar nua, à luz de velas Pelos corredores e cômodos particulares...de mim. Artwork: Neon Scorpion

Retirada

A melhor forma de desistir de algo ou alguém que você já comprovou que não vale mais qualquer investimento, é fazê-lo apenas dentro de você no mais absoluto silêncio; sem gastar um segundo a mais de energia com o que não te merece. Artwork: Saeed Razzaghi

Entre costuras

(...) Sim, havia uma falta invisível, mas ao mesmo tempo real e robusta Não cessava, entrava por todos os intervalos e pausas, fazia-se lembrar Mas desta vez nada a abrandava, tornara-se incapaz de ser domada, enganada Esgotara as lembranças bordadas de coloridas ilusões, interpretações complacentes Agora existiam apenas dias, horas e preguiçosos minutos incapazes de serem ludibriados Joana então passou a viver um diário sem poesia, talvez um deserto necessário para florescer Artwork:  Agnes Cecile

Azul

Miguel tinha uma personalidade evanescente. Não se detinha em absolutamente nada, talvez nem mesmo em si próprio. Vivia sob a rigidez de uma fórmula construída ao longo das suas ainda poucas décadas, para não ter que lidar com nada que fizesse a menor marola no seu autocontrole.  Assim, ele podia ficar com sua jangada plantada em alto mar sem ir a lugar algum por tempo indeterminado. Ele não nadava, não mergulhava, talvez nunca tenha chegado sequer a molhar-se de fato, mesmo estando no meio do oceano. Miguel não se importava com a monotonia daquele céu sempre igual, nem com aquela vastidão de águas inalterável, desde que ele permanecesse exatamente no mesmo lugar.  Seu quadrado no mundo era um quadro monocromático e estático com um horizonte de linhas bem definidas e inflexíveis, onde nenhum elemento escapava ou surpreendia, apenas reafirmava  ad aeternum um estado de coisas inabalável ou, em outra leitura, |paralisado|. Artwork:Katherine Gendreau

Anáguas

Não, Joana não gostava de ficar sozinha ou de se afastar das pessoas.  Joana era naturalmente alegre e carinhosa, gostava de correr pelos campos descalça, se jogava sem medo na grama, era capaz de entrar de roupa no mar, não fugia da chuva — se deixava molhar até encharcar-se... Mas, Joana finalmente se deu conta de que sua sensibilidade tinha muitas anáguas e de que ela nunca mais permitiria que alguém pisasse nelas. Photo: Laura Hanifin

Futuro

Ela poderia ter gritado impropérios, mas tudo o que conseguiu dizer foi: — Espero que você encontre borboletas, em você... E partiu, cabelos ao vento, todos eles. Artwork: Fabienne Jenny Jacquet