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Noite inconclusiva



Pela vidraça do McDonald's da Times Square, ela lança um olhar longo pra rua
De onde está, observa pessoas zanzarem pela madrugada pós alguma coisa
Está no segundo andar, mas parece que esta mais distante, fora dali
Alguns caminham sozinhos, devagar, sem linhas retas, errantes
Outros riem em grupos; ela não os ouve, mas parecem felizes
Outros são um, na verdade dois, apertados por um abraço
Ela é um pouco de todos e também não é nada daquilo

Por isso, quando ela se perde, adora ir para aquele lugar híbrido, vago
Fast food, fast images, fast moments; um lugar onde nada é retido
Aquele anonimato forçado lhe confere uma sensação de conforto
Quem é ela, quem são todos, apenas um monte de ninguéns

Ela continua olhando pela vidraça, ofuscada pelo neon do letreiro abaixo
O excesso de cores e apelos ao redor torna tudo menor e simplificado
A poluição de sons e imagens provoca-lhe uma meditação ao inverso
Enquanto vestígios dos desejos e das intenções de horas antes
Se dissipam no murmúrio que vem daqueles rostos sem nome

Esse universo confuso lhe devolve o eixo perdido
Depois de mais uma noite que era promissora
Mas acabou inconclusiva, como as outras 
Fazendo com que ela busque respostas
Que não estão lá fora, estão nela

E ela sabe, então decide fugir
Enquanto pode, porque dói
E ainda não é a hora 
De deixar doer
De novo